Da liberdade da vontade schopenhauriana à anulação do homem religioso em Nietzsche.
Por: DENYLSON DOUGLAS DE LIMA CARDOSO
O presente opúsculo, aborda a questão da liberdade na percepção de Artur Schopenhauer no que concerne a conceituação da vontade e suas significações, bem como as condições apresentadas pelo mesmo sobre como se evitar o aprisionamento do homem às suas vontades, apresenta também, algumas ponderações da filosofia de F. Nietzsche sobre a prisão do homem religioso e sua superação no super-homem.
Palavras – Chave: Vontade humana. Cristianismo. Moral.
Na sua crítica sobre como se forma e se estrutura o conhecimento, Artur Schopenhauer descreve no livro o mundo como vontade e representação de modo único e coeso com a própria perspectiva pessimista de sua filosofia alguns pontos importantes sobre o conhecimento artístico, e sobre a possibilidade de se buscar na sua percepção se conhecer a coisa como tal e isto remete-nos sobre a arte enquanto objeto do não artístico e necessariamente estético. No sistema de Schopenhauer é comum depararmos com questionamentos relacionados a forma de ver pessimista do mundo, esta visão não obstante encontra-se na vontade que é a raiz metafísica do mundo e da condição humana, e que ao mesmo tempo remete-nos aos princípios de todos os sofrimentos e que chegamos a conclusão de que fatalmente viver é morrer. Muito embora esta visão se torna clara em sua filosofia e com a miséria humana inerente ao seu existir, logo compreendemos não a felicidade, mas sim a possibilidade de nos depararmos com o mundo de lembranças e sofrimentos e infelicidades que não existe satisfação fugaz de ausência de dor.
Nesta lógica do pensamento schopenhauriano, deparamos com o homem miserável incapaz de conhecer a coisa, pois está limitado com suas desgraças, e que o caminho para a superação desta dor e desta miséria humana pode ser encontrada na busca possível pela estética, pela contemplação artística, o que vai ser apresentado nos textos do livro III de o mundo como vontade e representação, infundindo basicamente, em um primeiro momento pela busca do conhecimento humano e pela relação entre o conhecer pela razão e o conhecer pela imagem. Ora se consideramos o conhecimento estético como obra do não lógico, se perdera a essência de sua significação como fundamentação paradigmática, ou seja o fazer artístico se desvincula das regras e normas pré-estabelecidas pelo fazer técnico. Quando observamos o texto de Schopenhauer deparamo-nos inicialmente com duas colocações iniciais sobre a relação em contemplação a arte, uma visão do conhecimento não como coisa individual, mais idéia platônica, quando vimos formas de um conjunto de coisas e o segundo refere-se a consciência de si do sujeito cognoscente não como indivíduo, mas como sujeito puro, independente da vontade, aqui apresentada como conhecimento.
A argumentação de Schopenhauer apresenta o conhecimento como principio de uma razão, esta racionalidade origina-se basicamente pela idéia que se apresenta na busca pela essência do homem, ao passo que esta essência não será da vida em toda a sua forma e matéria inanimada e nem tampouco, a coisa- em- si, mas a realidade íntima a essência ultima de todas as coisas, que se apresenta como vontade de vida, e não de morte, a metafísica do amor se apresenta em Schopenhauer unicamente como a lei da atração sexual, o que na transvaloração da moralidade em Nietzsche se configuram dois aspectos importantes a saber, a vontade de viver e vontade de potência, ora, o amor passa então para Schopenhauer uma fraude praticada pela natureza, onde o casamento é atrito do amor que culmina com a decepção, onde o desejo na humanidade é infinito e a realidade é limitada, as paixões realizadas então leva a infelicidade e não a felicidade, e a vida se configura como má pois quanto mais elevado o organismo, mais elevado é o sofrimento, a insanidade é um refúgio do sofrimento, a loucura evita a recordação deste que como outras ideologias, religiões e moralidade dissimulam a vontade própria da trágica vida humana.
Neste ínterim, o cristianismo se apresenta como uma profunda filosofia do pessimismo, onde a doutrina do pecado original, aquele herdado por Adão e Eva no paraíso, e nada mais que a afirmação da vontade e a salvação se apresenta como a negação da vontade, ou a “grande vontade”, que é a essência do cristianismo. Sendo necessário o sofrimento humano afim de que aprimore o conhecimento sobre sua vontade.
Nesta critica forte ao cristianismo apresenta-nos algumas admoestações retratadas por Nietzsche que ajudarão na compreensão da anulação do homem autônomo, a religião e principalmente o cristianismo se compreende como a domesticação do homem que dominado pela moral se enfraquece, portanto, cabe perguntar o que é a moral em Nietzsche, ora, Nietzsche denuncia a falsa moral que é a moral de rebanho, de escravos, cujo os valores seriam a vontade, a humildade, a piedade, o amor ao próximo, o sofrimento com o outro (compaixão) estes, são os fracos incapazes de se afirmarem no mundo, essa leitura nos possibilita a ver o Homem como instaurador de valores novos, o homem Medíocre, cede lugar então ao super-homem, que é capaz de superar o mundo da vontade e da paixão, consegue se afirmar na adversidade e instaurar um novo significado a vida, re-significar a sua existência recriando e criando valores nobres e novos, buscando o verdadeiro bom, mas se digo verdadeiro bom significa afirmar uma necessidade conceitual de bom, em Nietzsche, o bom é tudo que intensifica no homem o sentimento de potência, a vontade da potência, a própria potência e o mau será tudo que promove a fraqueza.
O niilismo de Nietzsche baseia-se na afirmação categórica da mortalidade de Deus, se na transvaloração da moral, o homem se orienta no sentido de recuperar as forças inconscientes, força vital, instintiva e subjugada pela razão durante séculos, é elaborada por Nietzsche uma análise histórica da moral cristã e denuncia uma incompatibilidade desta com a vida. É preciso portanto, uma moral nova uma moral aristocrática, moral dos senhores que é voltada para os instintos da vida, o homem nobre surgido desta moralidade sabe dirigir suas experiências e esquecer, como condição para manter-se saudável, a má- consciência ou chamados “sentimentos de culpa” é o ressentimento voltado contra si mesmo, daí surge a analogia com o pecado que inibe a ação instintiva humana, e por isso que, contra o enfraquecimento do homem, contra a transformação de fortes em fracos que se instaura uma nova postura de homem, em uma perspectiva além do bem e do mal, isto é além da moralidade vigente, mas por outro lado, para além do bom e do mau. Em Schopenhauer a vontade quer se conservar, quer ser, em Nietzsche existe uma vontade de potência, de superação do ser.
Existindo esta ruptura em Schopenhauer do pensamento hegeliano, no que concerne a filosofia como grande sistema dá continuidade de certa forma com o Kantismo estabelecido na Europa, esta visão de mundo cega e irracional chamada de vontade.
Schopenhauer aponta quatro formas de escapar a vontade, a arte, como contemplação do belo, a justiça, como abandono do eu para o outro, um ato publico que por conseguinte é justificado ao outro, a compaixão o sofrimento com o outro, abominado em Nietzsche, que para Schopenhauer é um sentimento moral fundamental e enfim, a Ascese, onde anulando a vontade, num esvaziamento de si mesmo, que possibilita ao homem viver sem sofrer.
O que F. Nietzsche estabelece, na sua contribuição do pensamento filosófico na crítica da moralidade de início uma re-leitura do nascimento da tragédia, que situa duas teses, a primeira a eleição de Dionízio que sintetiza o espírito trágico, a segunda a criação da arte, cria então a percepção de que a vida é uma lacuna de tempo, Nietzsche coloca como solução para as salvação das misérias a arte, possibilitando esta uma forma do vir a ser.
No livro Humano demasiado Humano, o seu aforismo literário permite-nos compreender uma visão critica sagaz da moral, e instaura a chamada “grande saúde” que ultrapassa o idealismo e funda uma relação com o estilo novo de existência. Esta crítica da metafísica se justifica pela busca do autor no homem do Dionízio, o homem como um conjunto de forças que no mundo, instaura novas realidades se refazendo a cada instante , recriando a vida afirmando o tempo presente que a ele retornará, estas compreensões de duas figuras basilares da filosofia contemporânea, abrangem de certa forma a autenticidade do homem em super-ser a buscar não somente na racionalidade a capacidade de fruir ao mundo e nas suas diversas possibilidades.
